Autor de “Mister Brau” dispara: “Os negros no Brasil não estão representados na dramaturgia”

                                 

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Protagonizada por Lázaro Ramos e Taís Araújo,
“Mister Brau” é a primeira série brasileira a mostrar um casal negro vivendo em um padrão de vida alto. Essa característica chegou a chamar a atenção do jornal britânico “The Guardian”.

Com uma nova temporada confirmada para o ano que vem, Jorge Furtado, criador da produção, falou em entrevista para a coluna “Outro Canal” sobre como teve a ideia para o programa, preconceito e a intenção de colocar personagens que sempre estiveram em posição submissa mesmo em produções da Globo e a ascenção social desta fatia da população. “ A população negra é de 52% no Brasil e não está representada de maneira alguma na dramaturgia. Os EUA, com 13% de população negra, têm mais negros protagonizando filmes e séries”, afirmou.

“Queria falar da música brasileira, nossa grande arte. E são raros os personagens músicos. Li uma reportagem sobre a casa do Jorge Ben em um condomínio em Orlando (EUA) e pensei nessa história de um casal de músicos supertalentosos, ousados, que se muda para um condomínio careta. O Brau é mistura de Tom Zé, Tim Maia, Raul Seixas… gênios que a gente adora, mas que muitos não iam querer como vizinhos.” , disse ele sobre o surgimento da atração.

O roteirista destacou que não é a intenção principal do seriado abordar o racismo, mas a partir do humor abre a discussão para o tema, explícito na história de maneira disfarçada: [O racismo] Não é o mote [da série], mas essa questão tá ali velada, num tom de humor, sem proselitismo. A vilã (Fernanda de Freitas) não quer conviver com aquelas pessoas, quer se mudar. Ela não diz isso, mas tá ali velado.”

Em tempos de embate do humor com o politicamente correto, Furtado acredita que não vale tudo para fazer rir e alguns temas devem ser evitados. “A gente ri de coisas que não devia, não se deve incentivar o humor preconceituoso. Não tô instituindo o politicamente correto, o humor tem que ser ousado. Acho que a principal lógica é fazer coisas que gosto de assistir”, completou.